Naná, Guri e Calungá


O primeiro contato com um dos mais brilhantes percussionistas deste Brasil não deixou dúvidas sobre a alma que ali habitava. Emoção e verdade tomaram conta do seu ser quando Mariana Furquim, Chico Santana e Ricardo Cardim, representando o Projeto Guri, foram abordá-lo com uma proposta de se unir aos alunos do programa para construir um espetáculo cênico-musical baseado no disco “O Canto dos Escravos”.

“Encontramos com ele no hall de um hotel em que ele estava hospedado e quando lhe mostramos a primeira ideia do projeto, ele saiu andando. Ficamos ali sem saber o que fazer, perguntando-nos se ele tinha gostado ou não. Daí logo ele voltou, comovido, dizendo que queria muito fazer parte disso”, relembrou Mariana, assessora de projetos especiais do Projeto Guri.

A partir daí a narrativa de “Calungá – O Mar que Separa é o Mar que Une”, como foi chamado o espetáculo, foi sendo construída entre a equipe e alunos do Guri e o artista. “Desenhamos tudo em conjunto, diferente do que costumávamos fazer com outros artistas, baseando-nos no disco “O Canto dos Escravos” e em músicas do Naná. A ideia era contar a história da vinda dos escravos do continente africano ao Brasil, a separação de sua terra natal e como isso originou nossa cultura afro-brasileira”, disse Mariana.

Naná Vasconselos no polo de SorocabaE com o objetivo de valorizar os traços da matriz africana, que tanto influenciam nossa cultura, foram sendo feitas diversas ações de entrosamento e imersão ao tema do espetáculo entre os alunos, incluindo uma ida à Picinguaba (litoral norte paulista), para todos sentirem a vibração e energia que emana do mar, e uma visita ao Museu Afro Brasil em São Paulo. “Durante uma semana, Naná ficou ensaiando em Sorocaba com os alunos. Desde de manhã ele ia para o polo, conversava com os alunos, interagia e se entregava. Foi uma experiência muito rica para todos, com uma construção conjunta que deu força ao que se tornou o Calungá”, relatou a representante do Guri.

Com alegria e emocionada, Mariana lembrou-se das primeiras conversas que teve com Naná, durante as quais ele citou sua famosa frase: o primeiro instrumento é a voz, o melhor é o corpo e o resto é consequência disso. “Isso me marcou muito porque teve muito a ver com todo o espetáculo, que foi feito essencialmente com voz e percussão, traduzindo a música de forma bem íntima”, afirmou.

Em 2012, o espetáculo foi apresentado em Santos, Sorocaba, São José dos Campos e no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, sendo assistido por mais de 2 mil pessoas. No final do mesmo ano, foi feito o lançamento de seu DVD, no Teatro Sérgio Cardoso, na capital paulista. Em 2013, Calungá venceu o prêmio internacional YAMA Awards, na categoria voto popular, como melhor espetáculo musical infantojuvenil. Confira aqui o documentário deste lindo trabalho, que representa o grande legado deste ser único ao Guri.

Axé, Naná!

 

Naná Vasconselos no espetáculo Calungá

 

 

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